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Saúde mental dos professores na contemporaneidade

Roseli Cabistani
Possui graduação em Psicologia pela PUCRS, mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutorado em Educação pela mesma Universidade. Professora associada da UFRGS, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre – APPOA. Tem experiência na área de Educação e clínica psicanalítica, com ênfase em Psicanálise, atuando principalmente nos seguintes temas: função paterna, infância, adolescência, relação professor-aluno.

O trabalho dos professores é sempre um importante tema no contexto social do país, dada sua função na construção de uma educação de qualidade.

Buscando aprofundar o tema, o NPOT1 conversou a psicanalista, professora universitária, doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Roseli Cabistani. Nesta entrevista, Roseli aborda temas como o trabalho docente, a saúde mental dos professores e o declínio da autoridade destes profissionais. “A autoridade do professor no mundo moderno estava relacionada ao valor atribuído ao seu conhecimento e capacidade de transmissão, bem como seu lugar social. Se esse lugar perde valor e todos os discursos se equivalem, como sustentar a autoridade no sentido simbólico?”, questiona.

Leia a íntegra da entrevista.

Além do conhecimento formal, quais são os requisitos necessários para ser professor na atualidade?
Penso que o trabalho docente envolve muita subjetividade, uma vez que transmitimos muito mais do que conhecimento. Transmitimos nosso desejo de saber e procuramos transmitir esse desejo aos nossos alunos, de forma que eles também se tornem desejantes de saber.

Pexels, 2019

Quais são os principais que fatores que afetam a saúde mental dos professores?
Diversos estudos apontam a ansiedade e a depressão como formas de sofrimento que afetam os professores. Ao mesmo tempo que é uma profissão de muita responsabilidade e importância, a docência é desvalorizada e cada vez mais tem sido exigida, no sentido de uma produtividade automática.

Sabemos que existe um declínio da autoridade dos professores na sociedade contemporânea. Quais as causas e consequências disto na vida desses profissionais?
No mundo da pós verdade em que vivemos o conhecimento foi equiparado à informação, sendo que esta última tem tanto valor se é veiculada por algum influencer ou por alguém que tem uma formação consistente e se preparou muito estudando e pesquisando. A autoridade do professor no mundo moderno estava relacionada ao valor atribuído ao seu conhecimento e capacidade de transmissão, bem como seu lugar social. Se esse lugar perde valor e todos os discursos se equivalem, como sustentar a autoridade no sentido simbólico?

Pexels, 2021

Qual o lugar da docência na sociedade brasileira?
Vivemos uma época de crescimento do neoliberalismo, regime no qual houve um decréscimo nos salários e mesmo uma precarização na condição dos trabalhadores. Os professores têm sido muito atingidos por essa situação e a profissão tornou-se pouco atraente do ponto de vista da ascensão social. Baixos salários e precarização implicam em desvalorização. Acredito que o desejo pela função docente ainda exista, mas está muito difícil para as pessoas assumirem essa profissão.

Uma pesquisa de 2021/1, feita pela Revista Nova Escola2, revelou que 72% dos professores tiveram a saúde mental afetada e precisaram buscar apoio psicológico durante a pandemia. Os impactos da pandemia em alunos e professores ainda estão porvir?
Acho que com a pandemia tivemos uma clara demonstração da falta que faz a presença dos professores. Assistimos os alunos desanimados, desmotivados, com muitas dificuldades sem essa presença que o neoliberalismo resolveu não ser mais necessária. Os resultados disso tendem a ser o rebaixamento do ensino e do avanço dos alunos.

Pexels, 2021

O direito ao descanso é tão fundamental que consta na lista de direitos assegurados aos professores. Qual seria a função do “não trabalho” na vida do professor?

A profissão docente requer elaboração, leitura, tempo para a formação constante e descanso. Um professor que não tem acesso à cultura, nas suas mais diversas formas, como tempo a ser usufruído, tende a fazer do seu trabalho uma atividade com pouca criatividade e invenção. O adoecimento é uma das consequências também. Esse desprestígio é muito característico da sociedade brasileira, muito desigual, na qual a educação é muito sucateada. Temos o exemplo de países desenvolvidos, nos quais a docência é muito valorizada e reconhecida.

1O Núcleo de Práticas em Psicologia Organizacional e do Trabalho (NPOT) atua em instituições de educação básica e de ensino superior promovendo Rodas de Conversa, Acompanhamento Psicológico individual e Palestras para professores e alunos dessas instituições.

2Acesse a pesquisa: https://novaescola.org.br/conteudo/21359/pesquisa-revela-que-saude-mental-dos-professores-piorou-em-2022

3Entrevista realizada por Edimar Blazina, estagiário do NPOT, com supervisão, coordenação e edição da Profª Drª Márcia Vitorello, coordenadora do NPOT.

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